Eugene Kaspersky (divulgação)

Se você não trabalha na área de segurança da informação de algum grande banco, administradora de cartão de crédito, transportadora do setor marítimo, empresa do ramo logístico e nem para a polícia internacional (ou para algum órgão do governo de combate ao crime cibernético), é possível que jamais tenha ouvido falar no russo Eugene Kaspersky. Para quem o vê em fotos, o matemático de 48 anos, nascido em Novorossiysk, cidade portuá-ria do Mar Negro, pode parecer uma pessoa simples. Mas é preciso vê-lo de perto para sentir seu carisma, mesmo que ele se vista de modo simples e goste de brincar com os funcionários durante as conferências de tecnologia que conduz. A verdade vai mais além: Kaspersky é um profundo conhecedor dos chamados vírus de computador, da forma como eles agem, instalam-se e também das estratégias usadas pelos criminosos digitais para roubar informações e dinheiro dos usuários.



GALERIA DE FOTOS: Os novos planos dos hackers

Considerado um dos maiores especialistas da atualidade em segurança da informação, Kaspersky é também um grande inimigo dos hackers. Graças ao seu vasto conhecimento do assunto, ganhou dinheiro, fama e poder. O mercado estima que, a partir de sua Kaspersky Lab, empresa de segurança da informação fundada em 1997, ele construiu uma fortuna que gira entre US$ 800 milhões e US$ 1,2 bilhão, o que o transformou em um dos homens mais ricos da Rússia.

Mas esse não é o seu maior patrimônio. Graduado pela Faculdade de Matemática do Instituto de Criptografia, Telecomunicações e Ciência da Computação, instituto copatrocinado pelo Ministério de Defesa da Rússia e pela KGB, Kaspersky é um CEO muito bem relacionado. Discreto quando o assunto envolve business, ele cultiva uma poderosa rede de contatos. Dizem que ele não só circula bem como também ajuda, por meio de sua tecnologia, a Interpol, o FBI, os ministérios da Defesa de vários países como a Itália e, principalmente, o Kremlin, a sede do governo russo.

Uma matéria publicada em 2012 pela revista americana Wired, uma referência do universo da TI e da internet, insinua que Kaspersky tem ligações estreitas com o governo do presidente Vladimir Putin e o FSB (o serviço secreto russo sucessor da KGB). A teoria gerou uma carta-resposta enfurecida do empresário, que afirmou não ser um “espião do Kremlin”, mas um “homem que quer salvar o mundo”. E isso inclui o Brasil. “Já visitei Salvador, Brasília, Rio de Janeiro e Foz de Iguaçu. Suas cataratas chamaram minha atenção assim como a ação dos criminosos digitais de seu país”, afirmou à FORBES Brasil.

Ele explica que os hackers ficam à espera da primeira vulnerabilidade para instalar programas em computadores, tablets, smartphones e smart TVs, atrás de qualquer fragilidade. A ousadia dos ataques, alerta, anda cada vez mais inimaginável. O Kaspersky Lab, negócio baseado em Moscou e Londres, protege mais de 350 milhões de estações de trabalho ao redor do mundo, entre pessoas físicas e cerca de 250 mil companhias.

A missão da Kaspersky, explica seu fundador, é blindar a vida digital do usuá-rio dos olhares criminosos. Hoje, a companhia vende desde um antivírus até um pacote de aplicativos de segurança para internet para multidispositivos. Para o universo corporativo, a empresa também oferece serviço de consultoria. Em 2012, o negócio fundado por Kaspersky faturou US$ 628 milhões (os números do ano passado ainda não foram divulgados) a partir das vendas para mais de 200 países. A Kaspersky também vende a inteligência da sua tecnologia para mais de 100 empresas do setor de TI, a exemplo da Microsoft, D-Link e Sonicwall, que a incorporam aos seus próprios produtos.

Mas Kaspersky não é do tipo que fica divulgando suas tecnologias. Ele prefere falar dos riscos. “A situação vai de mal a pior. Meu conselho para quem trabalha com segurança é: seja paranoico”, adverte. Por trás desse tom dramático, o empresário revela que há três tendências em ameaças que avançam sobre o espaço cibernético.

A primeira, imperceptível aos olhos dos usuários, é a migração do crime cibernético para o ambiente móvel. “Enquanto nós assistimos à tevê a partir de uma smart TV, os criminosos observam os nossos hábitos, senhas e movimentações pelos televisores inteligentes, pelas redes Wi-Fi e também pelos smartphones e tablets”, adverte. O pior, alerta, é que muita gente criou o mito de que celular é mais seguro que computador. Muitos ainda não perceberam que seus dispositivos móveis são tão (ou mais) propensos a esses tipos de ameaça. “A instalação de um jogo gratuito, por exemplo, pode vir com um código malicioso que ativa o GPS do seu celular e é capaz de enviar, a cada dois minutos, torpedos sigilosos com a sua posição no Google Maps”, adverte Claudio Martinelli, que é o diretor-geral da Kaspersky do Brasil.

O segundo alerta refere-se à transferência dos crimes tradicionais para o ciberespaço. No porto marítimo de Antuérpia, na Bélgica, o segundo maior da Europa, toneladas de cocaína e heroína foram recentemente apreendidas após a polícia descobrir uma enorme operação de contrabando de drogas que usou hackers para invadir sistemas de empresas de navegação, a partir de ataques de malware (software malicioso que se infiltra no computador) direcionados aos computadores das autoridades portuá-rias e dos funcionários das companhias de localização.

Como isso foi possível? A partir do hackeamento de sistemas de compu-tador que, na hora do embarque dos contêineres com as drogas, tiveram suas localizações alteradas a distância. Kaspersky ainda conta que há estações de distribuição de petróleo sendo hackeadas. O objetivo, muitas vezes bem-sucedido, envolve a mudança (para baixo) do preço cobrado.

O terceiro risco envolve a infraestrutura das empresas e vai muito além da adoção de barreiras tecnológicas. Há relatórios que mostram hackers desligando câmeras de ultrapassagem de velocidade. A indústria de segurança da informação acredita que, por ano, os prejuízos ocasionados pelos malwares chegam a US$ 100 bilhões.

O Brasil, explica Martinelli, é um celeiro da criação de malware. Boa parte deles é voltada ao roubo de dados bancários. “São programas de computador voltados a obter informações de maneira não autorizada. Tudo o que você digita é visto.”

Mas o que querem os criminosos? “Os crimes digitais sempre visam dinheiro”, afirma Kaspersky. Mas há também a guerra por poder, conduzida por países que atacam e contra-atacam em busca de informações para desestabilizar governos, projetos e concorrências. “Quando o tema é a segurança da informação, não se trata de um risco previsível, mas de um risco gerenciável”, afirma Tom Ridge, primeiro- se-cretário da Segurança Interna dos Estados Unidos, de 2001 a 2005. Ou seja, a paranoia sugerida por Kaspersky é o melhor conselho para se proteger.

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