Não há como negar que a criminalidade é um dos maiores problemas atuais do Brasil — e não falamos só sobre a vida real, mas também de ambientes eletrônicos. Segundo uma pesquisa realizada pela Kaspersky Lab em 2014, 43% dos usuários sofreram tentativas de golpes bancários virtuais, enquanto 60% deles estão preocupados com espionagem e 15% possuem dados "insubstituíveis" em seus dispositivos.

Entretanto, há quem ache que está protegido contra essas ameaçadas mesmo sem tomar muitas medidas, como prestar atenção na navegação ou contratar serviços de segurança. Aproveitando o lançamento do pacote Total Security 2015, o TecMundo conversou sobre cibercrimes e muitos outros temas com o Analista Sênior de Segurança da Kaspersky Lab do Brasil, Fabio Assolini.

Na entrevista, ele quebra vários mitos relacionados à proteção digital, estabelece um panorama atual da segurança no país e até dá algumas dicas para os usuários. Confira o papo:

TecMundo: Como você chegou ao Kaspersky e como nasceu o interesse na área?

Fábio Assolini: Tudo começou em 2006, quando o PC de uma namorada foi infectado por um worm que afetava o MSN e mandava mensagens para todos os contatos. Já trabalhava com informática, então fui atrás, encontrei o executável e daí nasceu a curiosidade em saber como ele surgiu. Dias depois, analisei o código dele e encontrei um pessoal num fórum chamado Linha Defensiva, onde havia um artigo com detalhes da praga – exatamente o que descobri por mim mesmo. Achei fascinante, comecei a frequentar o site e até fiz parte da equipe. Começou como curiosidade, um hobby, e virou profissão.

Vivemos em uma espécie de paradoxo: as tecnologias estão mais avançadas e a segurança digital também. Ao mesmo tempo, porém, isso permite a existência de malwares mais potentes. Como virar esse jogo?

Para reverter esse cenário, a primeira medida é o usuário ter a ideia de que tudo isso não é lenda ou ficção, ele pode ser vitima. É comum eu ouvir gente falando "Ah, não tem problema eu pegar vírus no PC, não tenho nada importante nele". Na verdade, isso facilita ação de uma praga e um computador infectado pode ser totalmente controlado, sendo usado inclusive em ataques contra empresas e outras pessoas. É preciso ter essa noção dos prejuízos que causam essa falta de comprometimento com a própria segurança. A segunda é o usuário não achar que só ter cuidado basta. Isso traz uma falsa sensação de segurança. Hoje, você tem ameaças mais complexas que precisam de inteligência humana para serem analisadas.

As ameaças são mais locais hoje em dia (só atacam brasileiros, por exemplo) do que globais?

Existem ataques que nascem, ocorrem e se desenvolvem aqui no Brasil. Em alguns países, a realidade dos ataques cibernéticos é peculiar e, para você compreender todos, tem que ter quem conheça o contexto. Isso também em China, Índia, Rússia... Quer um exemplo? No Brasil, existem vírus que alteram boletos bancários. Em 2014, tivemos um boom desses ataques, só que o sistema de pagamento é único do país. Se você for explicar para um estrangeiro, ele não vai entender data de validade, acréscimo, essas coisas. Quando essas ameaças apareceram, a detecção era quase zero, até que as empresas com equipes aqui as encontrassem. Por isso, [para a empresa de segurança] é importante ter uma equipe de especialistas locais, não só uma "equipe de vendas". Só que isso traz custos, e o modelo de funcionamento de antivírus gratuito é um pouco enxuto, deixando de lado esses profissionais.

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